Chapada Velha" - o ciclo do ouro
A exploração aurífera iniciara-se primeiro em Jacobina e, logo a seguir, em Rio de Contas. Num primeiro momento o Conselho Ultramarino decidira proibir a mineração, receando assim esvaziar as Minas Gerais mas, ante a continuidade da exploração clandestina, voltou atrás a ponto de, na década de 1726, mandar nas duas vilas construir casas de fundição para assim exercer controle sobre a grande produção.
Registrou o militar Durval Vieira de Aguiar que "o Rio de Contas nadou em ouro, de uma maneira tal que pareciam exageradas as arrobas de que falam os arquivos da Câmara e os próprio Compromissos das Irmandades. A moeda corrente era o ouro em pó ou em barra; sendo a oitava quase que a unidade monetária".
Sobre o desenvolvimento da região aurífera da Chapada o historiador Licurgo Santos Filho, no seu Uma Comunidade Rural do Brasil Antigo, registra que o povoamento iniciara-se às margens do rio Brumado (também denominado "rio de Contas Pequeno", à época), onde hoje se acha a cidade de Livramento de Nossa Senhora, arraial que em 1724 se emancipara e, em razão de epidemias que ali grassavam, tiveram autorização para mudarem a sede, erguida onde hoje está a cidade de Rio de Contas, passando Livramento a ser conhecida como "Vila Velha"
Santos Filho registrou que a nova povoação "prosperou (...) surgiram e multiplicaram-se as casas de taipa, de porta e janela, moradias dos mineiros e dos novos habitantes, comerciantes e homens de negócio, artífices e homens de ofício, autoridades, gente da Igreja, o cirurgião-barbeiro, o boticário, afinal, toda a população de uma vila florescente, afamada pelo ouro extraído em suas cercanias". O autor fala ainda que para lá acorreram "milhares, talvez, de cristãos-novos", ali refugiados das devassas no Reino, de tal forma integrando-se na vida local que, ao se instalar o "Familiar do Santo Ofício, Miguel Lourenço de Almeida", não há registro de qualquer perseguição, limitando-se este ao papel de "senhor feudal". Registra, ainda, as estradas da "rota de currais" pelas quais escoavam a produção e comunicava-se a região com a capital, os estados de Goiás e Minas Gerais, e também ao Piauí
Durval Aguiar aventa como possibilidades então narradas para o fim desse ciclo as "exigências do opressivo imposto do quinto, feitas pelos agentes do fisco em favor do reino de Portugal; outros dizem que o governo português, no intuito de não provocar a usura dos invasores holandeses, a mandou proibir; outros, mais razoavelmente, asseveram que a mineração do ouro, já um tanto enfraquecida por todos esses e outros embaraços, só veio a cessar em 1844 quando foram descobertas as primeiras lavras de diamantes do Mucugê e Lençóis, que tanto floresceram de 1848 a 1872.
O fato é que o escasseamento do ouro de aluvião provocara o esvaziamento da região em menos de um século, a ponto de em sua passagem de 1818 pela região da Chapada os naturalistas Spix e Martius registrarem que ali havia raros garimpeiros, sendo maiormente habitada por roceiros e, segundo lhes informara o vigário do lugar, na parte oriental da Chapada (de Rio de Contas a Jacobina), havia somente nove mil pessoas Pouco tempo depois, em 1822, a Chapada participou das lutas pela Independência da Bahia, segundo o historiador Luís Henrique Dias Tavares, “Foram os brasileiros que de fato libertaram a cidade do Salvador de armas nas mãos. Primeiro foram os brasileiros de Santo Amaro, Maragojipe, Cachoeira, São Francisco do Conde, Nazaré das Farinhas, Jaguaripe, que formavam um exército de esfarrapados. Depois, entraram os brasileiros que desceram lá de Caetité, do Sertão e da Chapada Diamantina, formando um exército das mais diferentes cores, de brasileiros filhos de escravos, descendentes de escravos, brasileiros brancos pobres que nada tinham além de uma roça de cana plantada para o senhor de engenho”.
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