quarta-feira, 15 de novembro de 2023

Ciclo do Diamante

 

Ciclo do Diamante

                                                          



                                                     


A região originalmente denominada "Lavras Diamantinas" veio a denominar toda a Chapada e "marca 

uma 

divisão histórica dos municípios pertencentes à região conforme apresentassem ou não possibilidade de 

extração da pedra. As cidades mais antigas pertencem assim à região das lavras, no centro da Chapada 



Diamantina", como assinalou Gabriel Banaggia 


C

om o título de Diamond Mine of Sincura, o jornal australiano The Maitland Mercury registrava, já em 

1842, a existência da mineração na região da Serra do Sincorá, falando da insegurança na região do 

garimpo e da qualidade dos diamantes ali encontrados. A notícia narra que a descoberta 

dos diamantes fora feita por um escravo que, em outubro de 1841, tentara vender 700 quilates da pedra e 

fora aprisionado; sem dele conseguirem obter a indicação de onde estavam os diamantes, então 

permitiram-lhe a fuga convenientemente e puseram indígenas experientes para segui-lo, vindo a capturá-lo 

com o tesouro próximo a Cachoeira - então a segunda maior cidade do estado, confirmando a existência 

das pedras. Foi pesquisada então uma vasta área do Paraguaçu  no entorno da serra do Sincorá, e as 

minas foram descobertas. 



                                         





Assim, já nos meses iniciais os primeiros aventureiros ("condenados e assassinos") para lá acorreram. Logo milhares 

de pessoas estabeleciam os povoados, chegando Lençóis a contar com vinte mil pessoas e três mil casas. Sem a 

presença estatal, os próprios mineiros estabeleceram seu código de regras. Três quintos da produção foi para a 

Inglaterra, um quinto para a França e Hamburgo e o quinto restante aos comerciantes do Rio de Janeiro e Salvador - 

uma quantidade tão grande que os lapidadores da Europa não conseguiam lapidar a metade e o preço da joia 
ameaçava 

 


De sua passagem pela Chapada em 1880, registrou Teodoro Sampaio na obra O Rio São Francisco e a 

Chapada Diamantina: "Se, porém, quisermos determinar com mais precisão a zona diamantífera, no 

interior da Bahia, teríamos de destacar, entre os onze graus e os catorze graus de latitude sul, o mais 

largo 

trecho da chapada, cujos limites por linhas naturais seriam, a começar pelo oeste: o rio São Francisco 

esde o Xiquexique até a barra do Paramirim, e por este acima até as suas nascentes no pico das Almas, 

daí pelo curso do rio Brumado até sua barra no rio de Contas, seguindo depois por este abaixo até onde 

lhe entra pela esquerda o rio Sincorá. Daí, tomando para o norte, sobe o Sincorá até as suas cabeceiras e, 

transpondo a serra do mesmo nome, ganha as nascentes do rio Una, cujo curso desce até sua foz no 

Paraguaçu. Remonta o curso deste até a barra do rio Santo Antônio, e subindo por este acima vai até a foz 

do rio Utinga, cujo curso subirá até as suas cabeceiras nas vizinhanças do morro do Chapéu, e, 

prosseguindo ao norte para além das nascentes do rio Jacuípe, sobe até o paralelo de onze graus de 

latitude sul, que ficará sendo o limite do lado setentrional".




                                  



A lavra dos diamantes se dava inicialmente no leito dos rios Cumbuca, Piabinha e Mucugê, bem como nos 

riachos e córregos afluentes. Mas mesmo áreas hoje centrais de povoamento, como o centro de Mucugê, 

também foram garimpadas. A divisão das partes dos rios entre garimpeiros legou alguns nomes daqueles 

que ali detinham a posse da lavra, como a Cachoeira do Tiburtino no Cumbuca, ou o poço de Zé Leandro, 

nomes que remetem aos gruneiros que ali trabalhavam, mesmo sem que tivessem a propriedade das 

terras, e que permaneceram até a atualidade. 


Essa atividade impactou não somente na vegetação nativa, como alterou mesmo o leito de rios em sua 

profundidade, curso e velocidade do fluxo pois, além da mineração diretamente neles, a atividade 

necessitava de bastante água para lavar o "cascalho", de forma que nos tempos em que não havia 

bombas, eram feitas barragens e aquedutos para os locais distantes dos leitos ou para cursos d'água 

secos na estiagem, onde chegavam por ação da gravidade, ainda existindo muitos vestígios dessas obras antigas, como ainda das casas de pedras erguidas muitas vezes junto aos paredões de rocha, grutas (ou "grunas"), que assim se tornavam elementos da arquitetura e são atualmente mais um dos atrativos turísticos. 



Carbonado: de "ferrujão" a tesouro mineral


                                          

O carbonado é uma forma de diamante de grande dureza que, durante a exploração da pedra preciosa na 

Chapada era simplesmente descartada pelos garimpeiros, que a chamavam de "ferrujão". Assim como a 

joia, era encontrado no meio do cascalho, nas áreas de aluvião e foi apenas a partir de 1870 que se 

descobriu sua utilização industrial e passou a ter valor comercial, sendo a região um dos únicos depósitos 

então conhecidos. 


Na chapada, segundo registrou Gonçalo de Athayde Pereira, seu comércio foi introduzido pelo francês 

edida equivalente a 17 quilates). O maior carbonado já encontrado pesava 3 167 quilates, pelo velho 

garimpeiro Sérgio Borges de Carvalho no garimpo do "Brejo da Lama" (a 10 km da cidade de Lençóis). Foi 


pois não existia seu uso no Brasil à época, tendo por destinos a Europa e Estados Unidos 

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Chapada Diamantina e suas Serras